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FRASES RETUMBANTES, DE TRIPLO OU NULO SENTIDO E IMPROVÁVEL APLICAÇÃO

terça-feira, 12 de outubro de 2010.
O besouro rola-bosta tocava seu estrumento.

A foca faz terapia desde que perdeu o foco.

Curso de livre-pensar. Aulas para autodidatas.
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O PRESENTE DE NATAL

quarta-feira, 6 de outubro de 2010.
Sentado na calçada da rua deserta, o rapaz, sem saber que era observado, considerava se ia ou não para a casa do pai, onde há dez meses não pisava.
A seu lado, num saco de pano, uma garrafa de vinho, um saquinho de nozes e presentes para toda a família: seus quatro irmãos, a avó e o pai.
Quando este lhe dera o ultimato, não pensara duas vezes e fizera sua trouxa.
Por sorte fora recolhido pela amorosa tia que lhe arranjara um emprego. Fazia quase um ano... e agora era Natal. O primeiro desde que se fora... quanta coisa acontecera... e Deus ainda lhe ajudara, que chegava vitorioso, não de mãos abanando, ou pedindo favor, mas com presentes para todos: um tabuleiro de ludo com xadrez-chinez, para o irmão mais velho, uma bola para o caçula e para as duas irmãs do meio, um jogo de pingue-pongue, que era um presente só mas ambas podiam brincar. Para a avó, o despertador de martelo com grande mostrador, que sabia que ela queria.
A mágoa da última discussão com o pai, que ocasionara a busca do seu rumo, ainda o machucava, e optara por presenteá-lo com um cartão horroroso, foto de uma fria plataforma espacial com a nave Apolo XI ao fundo. Símbolo de sua busca aos mistérios do desconhecido?... não sabia.
Sua mãe lá não estaria; fazia dois anos que se fora e as saudades eram muitas. Lembrou-se de seu sorriso e sentiu-o sendo dirigido a si. Foi tomado por uma profunda sensação de bem-estar quando adivinhou, bem próxima, sua presença carinhosa, a imagem nítina na mente funcionando como elo entre ele e os seus, e resolveu-se pela família; levantou-se, agora sorrindo e curvou-se para pegar o saco de presentes virando-se em seguida em direção à casa paterna.
Jogava o saco por sobre o ombro quando a cacetada, desferida pelo homem que oculto se aproximara, pegou-o na nuca, fazendo-o estatelar-se de bruços, os braços abertos, o saco arremessado a pequena distância.
O agressor pegou o saco, examinou seu conteúdo, viu no grande mostrador que os ponteiros buscavam a meia-noite e apressou-se de volta para sua casa, mas deteve-se bruscamente. Abaixou-se, abriu o saco em frente de si, pegou dentro o cartão da nave espacial e colocou-o na mão do inanimado, que parecia sorrir. Afastou-se em passos largos, também sorrindo, feliz.
À meia-noite o rapaz chegou à casa paterna, tonto, as faces arranhadas, a calça rasgada no joelho; beijou os irmãos, a avó e por fim abraçou demoradamente o pai, que deixou rolar uma lágrima... o único para quem trouxera presente.
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FRASES RETUMBANTES, DE TRIPLO OU NULO SENTIDO E IMPROVÁVEL APLICAÇÃO.

Os seios se expressam pelo decote pronunciado.

O tubarão martelo bateu na cabeça do macaco prego.

O sueco, de suíças, joga sueca sem sueca.
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NOVA EDIÇÃO DA CACHOEIRA ENCANTADA

quinta-feira, 23 de setembro de 2010.
A CACHOEIRA ENCANTADA EM NOVA EDIÇÃO, AGORA EM PAPEL RECICLADO.

O mais vendido da primeira Feira do Livro Infantil de Fortaleza, que se encerrou dia 18 ultimo, o referido livro esgotou sua quarta edição. Já está sendo rodada uma nova, texto completamente reformulado, mais enxuto, e totalmente feito com papel reciclado, para manter a coerência do autor, grande defensor do planeta.
Contemplado em fins de 2009 com menção honrosa da ANA – Agência Nacional de Águas, que o considerou “livro infantil de educação ambiental”, esta fábula rendeu ao autor, na oportunidade, o escritor Hugo Homem, um belo troféu de Cristal, obra de arte lindíssima. A peça, criada pelo mestre-vidreiro Mario Seguso e executada em vidro cristal, visa a simbolizar exclusivamente o Pêmio ANA, promovido pela Agência, em concordância com sua iniciativa de incentivar, promover e premiar ações que buscam a excelência e a originalidade na conservação e no uso sustentável da água.
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GODZILLA BEATIFICADO

domingo, 29 de agosto de 2010.
Vaticano-Urgente. O nosso adido literário-gastronômico em Roma, Urias Pargo, vem nos informar em primeira mão que o processo de beatificação de Godzilla veio a receber um parecer positivo.

Por ter demonstrado senso incomum de responsabilidade ao defender sua cria em detrimento da própria vida, enfrentando tanques, mísseis e aviões, traiçoeiramente armadilhado nos cabos da ponte, que o enredaram, tornando-o indefeso, momento em que foi impiedosamente sacrificado sem derramar uma lágrima, sem deixar escapar uma queixa, apenas o urro de decepção.
Já sendo referido pelos devotos como santo, Godzilla passa a ser considerado um mártir, tendo, para proteger os filhotes, feito o milagre de sobreviver mais de 12 horas, como pedestre, no trânsito infernal de uma megalópole.
Pela primeira vez, estamos diante de alguém que saiu das telas para se transformar, literalmente, num monstro sagrado.
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HUGO HOMEM NA ESCOLA GIRASSOL

sábado, 28 de agosto de 2010.
Este escritor que vos escreve estará durante toda a manhã de hoje na escola GIRASSOL, no bairro do Itaigara, em Salvador, em contato com os alunos e pais, falando dos seus livros e tentando interessar mais pessoas pela prática da leitura.
A Feira de Livros do GIRASSOL, um dos colégios mais renomados de Salvador, já tem tradição de muitos anos, e seus alunos se diferenciam pela intimidade que têm com o livro e a leitura. No dia de hoje, além das grandes editoras presentes com suas centenas de títulos, estará presente também, seis vezes premiado com o HQ MIX, maior prêmio dos quadrinhos, o criador da TURMA DO XAXADO, o grande quadrinista CEDRAZ.
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A CACHOEIRA ENCANTADA

quinta-feira, 26 de agosto de 2010.
Está sendo preparada uma nova edição do grande sucesso A CACHOEIRA ENCANTADA, que recebeu menção honrosa da ANA - Agência Nacional de Águas,qualificando-o em nível nacional como livro infantil de educação ambiental.
Totalmente revisto, com o texto mais leve, feito em papel reciclado,com encarte de colorir, abrangendo várias funções pedagógicas, o autor está correndo contra o tempo para que possa tê-lo consigo na próxima Feira do Livro Infantil de Fortaleza, que ocorrerá nos próximos 15 a 18 de setembro, juntamente com AS TRAVESSURAS DE FRUFRU, que será lançado durante o envento na capital cearense, no dia 17.
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ERRO MÉDICO

segunda-feira, 23 de agosto de 2010.
Caindo de uma sacada
numa queda de mau jeito
me esborrachei na calçada
quebrei o braço direito.

Inerte sob a janela
após o grave tropeço
lá chegou doutor Canela
para me aplicar o gesso.

O doutor não foi perfeito
no braço mal encanado
agora o esquerdo é direito
e o direito está errado.

Um serviço tão malfeito
quero observar de perto
pois se o esquerdo é que é direito
o direito não está certo.

Fiquei desorientado
confuso, também com medo;
será o certo errado
já que direito é o esquerdo?

Este caso sem proveito
só por hora tem registro
se meu esquerdo é direito
fiquei um destro sinistro.

Mas não culpo do mau passo
a medicina moderna
como entender de braço
se Canela está na perna?
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Livros de HH na Feira do Livro infantil de Fortaleza

No dia 17 de setembro próximo, estará sendo lançado em plagas cearenses, no decorrer da Feira do Livro Infantil de Fortaleza, o mais novo título infantil deste escritor que vos escreve, AS TRAVESSURAS DE FRUFRU, uma história própria para ser contada, que narra a relação entre uma criança e seu animalzinho de estimação.

Dentro da singeleza de um conto tocante, várias funções pedagógicas são contempladas, dentre referências básicas, como tamanho, cores e formas, mas principalmente, o grave problema das perdas.

Seguindo a linha que baseia sua ficção, divertir e emocionar, o autor, neste pequeno texto, com suas ilustrações preciosas, tem trazido lágrimas e sorrisos às crianças que o ouvem e também aos adultos que a narram.

No Google, digitando o título, há informações,capa e outras coisas a respeito.

A CACHOEIRA ENCANTADA, livro que recebeu recentemente a Menção Honrosa da ANA - Agência Nacional de Águas, e foi considerado livro infantil de educação ambiental, estará também no stand deste autor.

Estão todos convidados.
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AO PÉ DA LETRA

INFRINGIR, INFLIGIR E AFLIGIR são palavras preocupantes, que costumam confundir pela semelhança, mas com sentidos totalmente diversos: INFRINGIR é quebrar regulamentos, burlar leis, desobedecer ordens. INFLIGIR é sujeitar a um castigo, aplicar uma penalidade ou ônus de qualquer tipo e AFLIGIR, por si só, já é motivo de aflição, tornar aflito. Por outro lado, FRIGIR é fritar. Ao pé da letra, no frigir dos ovos, enquanto os fatos se sucedem, faz-se uma omelete.
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paradoxo

domingo, 22 de agosto de 2010.
o ponteiro das horas é sempre o diminuto.
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sábado, 21 de agosto de 2010.
A dor me alcançou...
A miséria me atingiu...
A tristeza me pegou...
mas não me desesperei...
Sabia que após galgar os precipícios varridos pela ventania;
escalar os barrancos íngremes de escarpas pedregosas,
encontraria, no alto da montanha,
abrigo, sopa quente e companhia.
Vislumbrei o carvoal fumegante onde foi uma floresta verde outrora
e contemplei os agora secos mananciais
que no passado mitigaram minha sede;
senti angústia no peito apertado
se tive que falar quando ninguém ouvia
ou se me calei contrariado...
Mas nem assim eu me desesperei...

Saquei do bolso um guardanapo de papel amarrotado
e a velha bic já borrando o traço
sentei no banco, mal acomodado.
Estendi o tapete vermelho da alegria,
dei um chute no traseiro do cansaço
e me libertei... no voo da poesia.
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BRINCADEIRA COM A LÍNGUA.

Curiosidades e Abundâncias
redundâncias da língua portuguesa.

A letra C, do primeiro grupo de consoantes a do meio, foi uma das maiores invenções da língua portuguesa em termos de síntese, pois, segundo o filólogo lusitano Rede Moinhos, antes a referida letra era conhecida como cecedilha-sem-cedilha... ó pá!
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A FÁBRICA DO TEMPO

sexta-feira, 20 de agosto de 2010.
A FÁBRICA DO TEMPO
Hugo Homem

Os segundos, oriundos
da eternidade futura
deslizam na esteira industrial,
linha de produção
da fábrica do tempo de cada um,
em embalagens idênticas, incontáveis,
desfilando em frente ao seu dono,
que,
quando desperto e atento
tem o dom de desembrulhá-los
revelando-os um a um,
distintos e atuantes,
para aproveitá-los da melhor forma
em seu conteúdo de realização,
transformando-os em efetivos feitos,
ou,
letárgico e disperso,
deixá-los passar, intocados,
em seu sono de mesmice,
permitindo que se afastem,
amontoando-se ao fim,
em momentos iguais,
pesados, infindáveis,
para logo em seguida, inúteis,
se dissolverem no mar
da eternidade passada.
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água e luar

quinta-feira, 19 de agosto de 2010.
Chuva e tarde penetravam com a lua
na janela do quarto que minguava
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AS DUAS VIDAS DO TEXTO

AS DUAS VIDAS DO TEXTO

Caiu-me nas mãos sem aviso prévio. Em meio a amigos, vários livros manipulados, e inadvertidamente um permaneceu comigo, perfeitamente encaixado em minhas mãos ou meticulosamente adaptado à axila enquanto cumprimentava alguém, o dono anônimo sem dar por sua falta ou ao menos reclamá-lo. Só na ida para casa, sentado no banco sem estofado do ônibus, comecei a folheá-lo: um exemplar da revista QVINTO IMPÉRIO. Mais de três anos depois de sua publicação e eu ali, passeando pelo sumário, olhos ávidos e seletivos nos diversos títulos de artigos, ensaios, críticas, manifestos e releituras; também poesias, e por fim, para meu profundo deleite, alguns contos, dos quais escolhi Os Galos da Aurora. Localizei a página e comecei a dar vida à estória; sua segunda vida, a que completaria o ciclo de sua existência. Sim, porque a primeira vida de um texto se inicia na prática de transcrevê-lo o autor, dos interstícios da mente, dos meandros da imaginação, dos empoeirados escaninhos da lembrança, de onde o extrai, transportando-o com suas características e nuances, seus valores e ambientes para a imensidão branca e passiva do papel que passa a ser o fiel depositário das emoções nele contidas. Mas nada disso teria sentido, não houvesse a situação contrária, quando o leitor, qualquer um; nos minutos seguintes, três anos como no meu caso ou vinte séculos depois, praticando o milagre da leitura, passa a percorrer o caminho inverso e começa a desvendar o que antes existiu somente na cabeça do escritor, decodificando os diversos símbolos da página, passando a descortinar paisagens, vislumbrar personagens, vivenciar situações em que muitas vezes o coração palpita de poesia, dispara de emoção, desmaia de susto ou morre de paixão.
E assim foi com este anoitecer; pensei penetrá-lo mas foi ele que me envolveu: “Noites compridas que tardam a passar... de princípio de mundo, fechadas, compactas...uma lua morosa por trás de nuvens pesadas...a tinta derramada na folha em branco do dia, a grossa tinta escura que apaga a escrita clara do sol.” Apesar do foco tremido da luminária do veículo, vejo-me alcançado pelo inexorável manto escuro, denso e imensurável. A personagem dorme, e o seu sono nem de longe ameaça minha vígil acuidade “...o menino ainda assim não desperta. Dorme um sono de pedra. Tem o sono final dos corpos fatigados ao extremo...Ou a irremovível inconsciência da pedra, que pode ser deslocada, rolada ou partida - e ainda assim mantém inviolado o veio de sua intemporal indiferença.” Mas há também a solidão da insônia, que mesmo que a ninguém seja novidade, me esmaga inesperadamente, a mim, o leitor que, escondido, observa: “...Acorda por acordar, sem aviso da bexiga ou dos intestinos. Os olhos se abrem para o negror que o envelopa, que dissolve cama, quarto, paredes, que parece deixá-lo sozinho...” mas, alívio, a madrugada afinal surge “... o negror que se esgarça... o sutil ingresso, em abafados passos... caviloso, corrompe o negro...a claridade submarina que entra pela fresta...” e enfim os galos... “alguns de claro canto auroral, outros de roufenho canto fúnebre... empenhados em rasgar o peito da noite... que começa... nas manobras do entardecer, e cai, sólida, como um capuz de ferro, sobre a terra, a casa, o mundo.” Galos que brigam, eriçam as penas, arrastam esporão e enfunam o peito, mas também ciscam terreiro, cobrem galinhas, e mais importante: cantam, cantam com seu canto rouco ou estridente, abafado ou possante e parecem puxar para mais perto os “primeiros rubores da manhã – outra manhã, um novo dia”. E por fim o autor me fez com suas palavras, mais que com minhas vistas, de dentro de um ônibus que varava a escuridão, enxergar todo o lirismo e a poesia da claridade expulsando a noite, levando-me juntamente com a personagem a novo enfoque sobre a força desse ciclo ao dizer que “...ele soube que o mundo, alheio a dores e golpes, se renovava todas as manhãs, e que à treva, por mais funda que seja a noite, sempre sucede a luz – e que a luz sempre traz um séquito de retemperadas forças, porque, apesar de tudo, é preciso amanhecer.”

Os trechos em itálico são excertos de OS GALOS DA AURORA - conto de Hélio Pólvora; crítico, tradutor, ficcionista, da Academia de Letras da Bahia.
QVINTO IMPÉRIO- Revista de Cultura e Literaturas do Gabinete Português de Leitura - o exemplar referido, do primeiro semestre de 1997.
AS DUAS VIDAS DO TEXTO
Hugo Pinto Homem
Caiu-me nas mãos sem aviso prévio. Em meio a amigos, vários livros manipulados, e inadvertidamente um permaneceu comigo, perfeitamente encaixado em minhas mãos ou meticulosamente adaptado à axila enquanto cumprimentava alguém, o dono anônimo sem dar por sua falta ou ao menos reclamá-lo. Só na ida para casa, sentado no banco sem estofado do ônibus, comecei a folheá-lo: um exemplar da revista QVINTO IMPÉRIO. Mais de três anos depois de sua publicação e eu ali, passeando pelo sumário, olhos ávidos e seletivos nos diversos títulos de artigos, ensaios, críticas, manifestos e releituras; também poesias, e por fim, para meu profundo deleite, alguns contos, dos quais escolhi Os galos da aurora. Localizei a página e comecei a dar vida à estória; sua segunda vida, a que completaria o ciclo de sua existência. Sim, porque a primeira vida de um texto se inicia na prática de transcrevê-lo o autor, dos interstícios da mente, dos meandros da imaginação, dos empoeirados escaninhos da lembrança, de onde o extrai, transportando-o com suas características e nuances, seus valores e ambientes para a imensidão branca e passiva do papel que passa a ser o fiel depositário das emoções nele contidas. Mas nada disso teria sentido, não houvesse a situação contrária, quando o leitor, qualquer um; nos minutos seguintes, três anos como no meu caso ou vinte séculos depois, praticando o milagre da leitura, passa a percorrer o caminho inverso e começa a desvendar o que antes existiu somente na cabeça do escritor, decodificando os diversos símbolos da página, passando a descortinar paisagens, vislumbrar personagens, vivenciar situações em que muitas vezes o coração palpita de poesia, dispara de emoção, desmaia de susto ou morre de paixão.
E assim foi com este anoitecer; pensei penetrá-lo mas foi ele que me envolveu: “Noites compridas que tardam a passar... de princípio de mundo, fechadas, compactas...uma lua morosa por trás de nuvens pesadas...a tinta derramada na folha em branco do dia, a grossa tinta escura que apaga a escrita clara do sol.” Apesar do foco tremido da luminária do veículo, vejo-me alcançado pelo inexorável manto escuro, denso e imensurável. A personagem dorme, e o seu sono nem de longe ameaça minha vígil acuidade “...o menino ainda assim não desperta. Dorme um sono de pedra. Tem o sono final dos corpos fatigados ao extremo...Ou a irremovível inconsciência da pedra, que pode ser deslocada, rolada ou partida - e ainda assim mantém inviolado o veio de sua intemporal indiferença.” Mas há também a solidão da insônia, que mesmo que a ninguém seja novidade, me esmaga inesperadamente, a mim, o leitor que, escondido, observa: “...Acorda por acordar, sem aviso da bexiga ou dos intestinos. Os olhos se abrem para o negror que o envelopa, que dissolve cama, quarto, paredes, que parece deixá-lo sozinho...” mas, alívio, a madrugada afinal surge “... o negror que se esgarça... o sutil ingresso, em abafados passos... caviloso, corrompe o negro...a claridade submarina que entra pela fresta...” e enfim os galos... “alguns de claro canto auroral, outros de roufenho canto fúnebre... empenhados em rasgar o peito da noite... que começa... nas manobras do entardecer, e cai, sólida, como um capuz de ferro, sobre a terra, a casa, o mundo.” Galos que brigam, eriçam as penas, arrastam esporão e enfunam o peito, mas também ciscam terreiro, cobrem galinhas, e mais importante: cantam, cantam com seu canto rouco ou estridente, abafado ou possante e parecem puxar para mais perto os “primeiros rubores da manhã – outra manhã, um novo dia”. E por fim o autor me fez com suas palavras, mais que com minhas vistas, de dentro de um ônibus que varava a escuridão, enxergar todo o lirismo e a poesia da claridade expulsando a noite, levando-me juntamente com a personagem a novo enfoque sobre a força desse ciclo ao dizer que “...ele soube que o mundo, alheio a dores e golpes, se renovava todas as manhãs, e que à treva, por mais funda que seja a noite, sempre sucede a luz – e que a luz sempre traz um séquito de retemperadas forças, porque, apesar de tudo, é preciso amanhecer.”

Os trechos em itálico são excertos de OS GALOS DA AURORA - conto de Hélio Pólvora; crítico, tradutor, ficcionista, da Academia de Letras da Bahia.
QVINTO IMPÉRIO- Revista de Cultura e Literaturas do Gabinete Português de Leitura - o exemplar referido, do primeiro semestre de 1997.
AS DUAS VIDAS DO TEXTO
Hugo Pinto Homem
Caiu-me nas mãos sem aviso prévio. Em meio a amigos, vários livros manipulados, e inadvertidamente um permaneceu comigo, perfeitamente encaixado em minhas mãos ou meticulosamente adaptado à axila enquanto cumprimentava alguém, o dono anônimo sem dar por sua falta ou ao menos reclamá-lo. Só na ida para casa, sentado no banco sem estofado do ônibus, comecei a folheá-lo: um exemplar da revista QVINTO IMPÉRIO. Mais de três anos depois de sua publicação e eu ali, passeando pelo sumário, olhos ávidos e seletivos nos diversos títulos de artigos, ensaios, críticas, manifestos e releituras; também poesias, e por fim, para meu profundo deleite, alguns contos, dos quais escolhi Os galos da aurora. Localizei a página e comecei a dar vida à estória; sua segunda vida, a que completaria o ciclo de sua existência. Sim, porque a primeira vida de um texto se inicia na prática de transcrevê-lo o autor, dos interstícios da mente, dos meandros da imaginação, dos empoeirados escaninhos da lembrança, de onde o extrai, transportando-o com suas características e nuances, seus valores e ambientes para a imensidão branca e passiva do papel que passa a ser o fiel depositário das emoções nele contidas. Mas nada disso teria sentido, não houvesse a situação contrária, quando o leitor, qualquer um; nos minutos seguintes, três anos como no meu caso ou vinte séculos depois, praticando o milagre da leitura, passa a percorrer o caminho inverso e começa a desvendar o que antes existiu somente na cabeça do escritor, decodificando os diversos símbolos da página, passando a descortinar paisagens, vislumbrar personagens, vivenciar situações em que muitas vezes o coração palpita de poesia, dispara de emoção, desmaia de susto ou morre de paixão.
E assim foi com este anoitecer; pensei penetrá-lo mas foi ele que me envolveu: “Noites compridas que tardam a passar... de princípio de mundo, fechadas, compactas...uma lua morosa por trás de nuvens pesadas...a tinta derramada na folha em branco do dia, a grossa tinta escura que apaga a escrita clara do sol.” Apesar do foco tremido da luminária do veículo, vejo-me alcançado pelo inexorável manto escuro, denso e imensurável. A personagem dorme, e o seu sono nem de longe ameaça minha vígil acuidade “...o menino ainda assim não desperta. Dorme um sono de pedra. Tem o sono final dos corpos fatigados ao extremo...Ou a irremovível inconsciência da pedra, que pode ser deslocada, rolada ou partida - e ainda assim mantém inviolado o veio de sua intemporal indiferença.” Mas há também a solidão da insônia, que mesmo que a ninguém seja novidade, me esmaga inesperadamente, a mim, o leitor que, escondido, observa: “...Acorda por acordar, sem aviso da bexiga ou dos intestinos. Os olhos se abrem para o negror que o envelopa, que dissolve cama, quarto, paredes, que parece deixá-lo sozinho...” mas, alívio, a madrugada afinal surge “... o negror que se esgarça... o sutil ingresso, em abafados passos... caviloso, corrompe o negro...a claridade submarina que entra pela fresta...” e enfim os galos... “alguns de claro canto auroral, outros de roufenho canto fúnebre... empenhados em rasgar o peito da noite... que começa... nas manobras do entardecer, e cai, sólida, como um capuz de ferro, sobre a terra, a casa, o mundo.” Galos que brigam, eriçam as penas, arrastam esporão e enfunam o peito, mas também ciscam terreiro, cobrem galinhas, e mais importante: cantam, cantam com seu canto rouco ou estridente, abafado ou possante e parecem puxar para mais perto os “primeiros rubores da manhã – outra manhã, um novo dia”. E por fim o autor me fez com suas palavras, mais que com minhas vistas, de dentro de um ônibus que varava a escuridão, enxergar todo o lirismo e a poesia da claridade expulsando a noite, levando-me juntamente com a personagem a novo enfoque sobre a força desse ciclo ao dizer que “...ele soube que o mundo, alheio a dores e golpes, se renovava todas as manhãs, e que à treva, por mais funda que seja a noite, sempre sucede a luz – e que a luz sempre traz um séquito de retemperadas forças, porque, apesar de tudo, é preciso amanhecer.”

Os trechos entre aspas são excertos de OS GALOS DA AURORA - conto de Hélio Pólvora; crítico, tradutor, ficcionista, da Academia de Letras da Bahia.
QVINTO IMPÉRIO- Revista de Cultura e Literaturas do Gabinete Português de Leitura - o exemplar referido, do primeiro semestre de 1997.
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HH na feira do livro infantil de Fortaleza

quarta-feira, 18 de agosto de 2010.
Este escritor que vos escreve estará participando da Feira do Livro Infantil que ocorrerá em Fortaleza, dias 15 a 18 de setembro próximo. Aproveita este espaço para convidar a todos os amigos da capital e cidades cearenses, da época em que aí morei, a visitá-lo em seu stand, para um dedo de prosa e histórias. Será um prazer recebê-los.
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AO PÉ DA LETRA

A expressão “à toa”, usada normalmente para designar coisas de pouco valor, ou falta do que fazer, na realidade é um termo náutico que designa uma embarcação que está sendo rebocada. Toa é o nome que se dá à corda ou ao cabo com que esta embarcação é puxada pelo rebocador. Ao pé da letra, “à toa” seria aquele incapaz de traçar o próprio rumo, o que vai aonde o levam.
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O FUNDO E A SUPERFÍCIE

O FUNDO E A SUPERFÍCIE

Um homem no fundo do poço. De pé. Olha para o alto. Veste roupas elegantes e não parece excitado. Vê a boca do poço muitos metros acima, o eixo com a corda enrolada tendo embaixo o balde pendurado e, por trás, o azul infinito do céu contido num pequeno círculo.
À sua volta a escuridão e os organismos a ela próprios e, quase palpável, a tentar beliscá-lo, mais que os insetos e aracnídeos, a solidão que o esmaga.
Seus ouvidos, entupidos, com dificuldade captam ruídos que não reconhece, como se procedessem de lugares distantes e só depois de muitos obstáculos lhes chegassem, confusos e distorcidos.
Seu olhar continua fixo na clara abertura do topo, atraído de forma inexorável pela cor e pela luz, pequenos indícios de que lá fora um grande mundo o espera, mas suas botas, enterradas até o meio do cano no solo pegajoso do fundo, o mantêm fixado: movimentos tolhidos, sentidos embaçados, percepção reduzida.
Não tem idéia de há quanto tempo está ali, mas lhe parece um largo período, ainda contando que perdera momentos preciosos olhando para baixo, como que hipnotizado pelo lodo, comprazendo-se em chafurdar; até que algo luminescente acima de sua cabeça o assustou a princípio, mas depois o deixou como que maravilhado, e teve que desviar as vistas que se ofuscaram, mesmo diante do parco raio de sol que vislumbrara, dado seu hábito à escuridão.
Ainda não sabia como, mas resolvera sair dali, alcançar a claridade, e começara a pensar em como fazê-lo. Deveria haver um jeito, e teria que ser logo, e quem sabe se livrasse daquele peso dolorido no corpo, da sensação de paralisia e da dificuldade que sentia em respirar.
Talvez subisse pela corda do alto, que teria que desenrolar de algum jeito; ou quem sabe tentasse escalar pelos interstícios das lisas e limosas pedras que, arrumadas, formavam o cilindro de granito fincado vertical no solo.
Vê a pequena folha seca, que vem girando e pousa, duas braças acima de seu rosto, na fina película, formando pequenas ondulações, como se fosse um sopro no finíssimo véu que separa a atmosfera mais sutil e diáfana acima, do fluido pesado, escuro e frio, abaixo, onde continua imóvel, apesar das roupas elegantes, silencioso e impassível, encharcado até os ossos.
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ÍNDIO TECNOLOGIA

segunda-feira, 9 de agosto de 2010.
SIÔ NADO, ÍNDIO MODERNO
DE TENDA CLIMATIZADA
TODA FLECHA ASSIM GELADA
SAI DO ARCO DE SIÔ NADO.
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HOMENAGEM A ZECA DE MAGALHÃES

Ó MEU MESTRE DE ALÉM MAR
DE ROTAS CURVAS E RETAS
POR FAVOR QUEIRA INFORMAR
PRA QUE SERVEM OS POETAS?...


SERÃO GRANDES PENSADORES
QUE TRADUZEM ESPLENDOR
AO TRANSFORMAR NOSSAS DORES
EM SENTIMENTOS DE AMOR?...


OU SERÃO BRAVOS SOLDADOS
QUE NO MEIO DA BATALHA
COMPÕEM HINOS... SOLTAM BRADOS
DOS BRAVOS SOB A METRALHA?...


OU ENTÃO OS PORTA-VOZES
QUE NA SAUDADE DE AUSENTES
FINGEM-SE OS TEU ALGOZES
NA DOR QUE DEVERAS SENTES?...


RESPONDE, MESTRE DOS MARES
DE FORMA FIRME E DIRETA
NO CHÃO, NAS ÁGUAS, NOS ARES
PRA QUE SERVE UM POETA?

JÁ QUE EM NADA ME AFETAS
EU, QUE CORRI VÁRIOS MUNDOS
RESPONDO-TE SEM TREMER


QUE ESSA RAÇA DE POETAS
É UM BANDO DE VAGABUNDOS
QUE NÃO TEM O QUE FAZER.
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Evite andar de pé no chão

O MONSTRO DESCALÇO INVADIU O CASTELO;
MEXEU, PROCUROU PELO POLICHINELO.
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domingo, 8 de agosto de 2010.
FRASES RETUMBANTES, DE TRIPLO OU NULO SENTIDO E IMPROVÁVEL APLICAÇÃO


Se o modess fosse juiz, o réu seria absorvido.

A foca faz terapia desde que perdeu o foco.

Os seios se expressam pelo decote pronunciado
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Do seu quarto a Lua
me olha de esguelha
Na face da noite
uma sobrancelha

vem aí:

Histórias Crescentes de Quarto Minguante
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frases retumbantes, de triplo ou nulo sentido e improvável aplicação.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010.
Um homem pendurado no banheiro; bateram na porta e ele disse: pingente!

Quem já foi galinha assada virou alma depenada.
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Presentear livros: Exemplo a ser seguido.

A FAZAG- Faculdade Zacharias Goes adquiriu oitenta exemplares do livro AS TRAVESSURAS DE FRUFRU, deste escritor que vos escreve, para que sejam presenteados aos meninos e meninas acolhidos pela ONG Instituição Beneficente Conceição Macedo, filhos de pais portadores do HIV, mais da metade nascida também soropositiva, nesta tarde de sexta feira, por iniciativa do Professor do colégio Módulo, Ronald de Carvalho Junior, à frente de sua equipe, quinze alunos voluntários do Grupo de Cidadania Ativa "Eu faço a diferença", que arrecadaram livros e brinquedos e estarão à frente de atividades lúdicas.
Eu, há três dias fui convidado pela equipe a contar esta singela história de minha autoria, que narra o relacionamento de uma criança com seu peixinho de estimação, aborda referências como tamanho, cores e formas e prepara a criança para o problema das perdas, tão grave e tão pouco abordado nas práticas educacionais, numa emocionante história, própria para ser lida em voz alta, e, ao ser contada, emocionar também a quem a conta.
Quando anteontem procurei o Professor Vitorino e expus a idéia de que cada criança saísse do evento com o seu livro debaixo do braço, a acolhida foi imediata e entusiástica, adquirindo ele próprio, em nome da FAZAG, no mesmo instante, os oitenta exemplares, quantidade suficiente para suprir cada criança, que seriam presenteados por uma, à outra instituição.
Apesar de a área educacional deste senhor abranger uma maior faixa etária, terceiro grau e pós-graduações, ele nos mostra que sensibilizar-se com a situação de problema por que passa tão larga faixa da nossa infância e adolescência atuais é algo que nos deve atingir a todos, devendo fazer cada um o que estiver a seu alcance para preparar de forma saudável o futuro do mundo, ao minimizar o trágico e elevar o produtivo e feliz, como ele mesmo acaba de fazer.
Obrigado Vitorino, professor Ronald Jr, alunos do Colégio Módulo, sua coordenadora Silvana Sarno e principalmente à Instituição Beneficente Conceição Macêdo, que abriga e trata destas crianças.
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O vazamento enfim tampado

quarta-feira, 4 de agosto de 2010.
O mundo suspira ao ver que foi sanado o vazamento de petróleo que há meses teimava em jorrar em alta pressão a dois mil metros de profundidade, nas costas Mexicoamericanas, o maior derramamento de óleo da história, contando dentre as "soluções do problema" o borrifo de um detergente que fazia com que o óleo ficasse pesado e afundasse, eliminando assim, a visão do problema.
Imagine-se o que os animais subaquáticos pensam disso.
Vários tipos de equipamento foram testados, para extrair o óleo da água do mar, dentre eles o projeto de um ator famoso que tentou vender estas máquinas ao governo, expondo para uma comissão superior nomeada para o assunto, as qualidades do produto. Resta ver se alguma delas funciona de maneira prática, para que, em no máximo duzentos anos, tudo não seja mais que uma má lembrança.
Parou de vazar? Agora é limpar.
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A PEDRA INVISÍVEL - para Eliseu Moreira Paranaguá


Um dia nasci uma pedra!

Como bebê pedra eu sei,
não causei dor, embaraço
e nem chorar eu chorei
contrariamente aos que surgem
de pais vivos, que se movem
e exigem seu espaço
não causei suor, cansaço
e nenhum trabalho eu dei.

Não acordei a ninguém
para que de madrugada
encarasse a cozinha
pra fazer a mamadeira
nem também trocar meus panos
e limpar minha sujeira
ou muito menos mandei
que uma babá sonolenta
zangada e rabugenta
maldosa e nos bagaços
se encurvasse no apoio
destes meus primeiros passos.

Fiz-me a criança pedra
quieto, no meu lugar
nem parecia com outras
que vinham me atazanar;
não impliquei com os filhos
de condes, barões, marquesas,
nem mesmo dos pobrezinhos
longínquos ou vizinhos
não dei cuidado ou despesas
com mestres e explicadores,
bedéis e preceptores,
para enfim entender
o que me empedernia,
o que devia saber
para ser o que seria
na consciência semente
fria, dura, contundente
de uma pedra adolescente.

Não fui jovem revoltado
nem ao menos problemático
sempre na minha, estático
não meti o meu bedelho
nas conversas e esculachos
tramóias e cambalachos,
não dei dica nem conselho,
não fiz parte dos conchavos
dos que existem de montão
tão comuns em Malhação.

A tudo calmo assisti,
presenciei, convivi
na paz passiva e feliz
de quem almeja ser pleno,
por inteiro e por completo
tranquilo, calmo e sereno
mas mesmo assim resoluto
por destino e diretriz,
até que me fiz adulto.

Já ninguém mandava em mim
e como recebesse indulto
quase auto-sustentável
pude fazer o que quis,
na firmeza da vontade
que não depende de aceite
pétrea, impermeável
como um dente de leite
que enfim criasse raiz.

Cresci do mesmo tamanho,
sem cuidado, sem amanho
numa vida nem tão viva
sem calor do sentimento
chata, feia tediosa
sem prazer, sem movimento,
sem dor, sem gosto e sem trauma;
nesta ação contemplativa
me vi uma pedra idosa
sem saber se tinha alma.

Hoje diante do mundo,
deste caos incongruente,
deste multi-falatório,
não sei se sou pedra ou gente
no silêncio aleatório
da muda revolução;
congelo minhas ações
permaneço nos meus dias
de mente e contemplação
sabendo que nada resta,
como crítico do mundo,
do que presta e que não presta,
que manter-me alienado
ante o abismo profundo,
vendo a revolta que medra,
sendo assim considerado
só mais um doido de pedra.

E por não ter nenhum sexo
opção ou preferência
pelo azul ou pelo rosa
não adquiri complexo
nem perdi a paciência
ao me ver pedra porosa
fruto da longeva idade
de tempos imemoriais
ciclo que a vida encerra
sem julgamentos morais
no ato de me tornar pó
e misturar-me na terra
quieta calada e só
saindo da condição,
da matéria abrindo mão,
de pedra desde nascença
sem viagem, sem andança;

ontem concreta presença
hoje volátil lembrança.
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segunda-feira, 2 de agosto de 2010.
A CACHORRADA

O pessoal das redondezas já nem estranha mais ao me ver acompanhado dos cinco cachorros que me seguem em qualquer parte que eu vá.
Moro num bairro afastado, entre o terminal ferroviário de cargas e as docas, onde aportam pesqueiros e cargueiros, o que faz a atmosfera ser sempre uma mistura dos cheiros de peixe, graxa e maresia, acrescidos dos vapores de dezenas de pequenos restaurante, bares, cantinas e lupanares que infestam o local, oferecendo má comida, má bebida e má companhia.
Tudo começou há cerca de seis meses quando, ao sair de casa – não é bem uma casa, mais uma vaga num beco, para onde sempre volto ao fim de minhas noitadas, para dormir e me recuperar das extravagâncias noturnas – fui tocado pelos lamentos famintos de um filhote recém desmamado, uma bolinha peluda, ainda incapaz de se virar sozinho. Empurrei-o para trás de uma lata de lixo e fui correndo pegar uns pedaços de carne que me sobraram do almoço, os quais o cãozinho engoliu com avidez, quase se engasgando, ficando depois a cochilar, as patinhas para cima, exibindo o ventre estufado que mais parecia um tambor.
Não trabalho, mas também não dispenso a caridade alheia; por outro lado, sou especialista no garimpo às latas de lixo, que vez por outra surpreendem com fartura e qualidade jamais imaginadas e, sendo assim, nunca tinha pensado em ter cachorro, pois acho que animal é para ser bem tratado; mas depois deste incidente, o pequeno cão se afeiçoou a mim e não tive coragem de despedi-lo, passando a trazer sempre da rua algo que pudesse alimentá-lo, incluindo-o à minha incerta sobrevivência. Até que passou a acompanhar-me. Em referência ao couro esticado de sua barriga, dei-lhe o nome de Bumbo.
Nem dois meses se passaram, ele crescendo rapidamente, travesso, irrequieto e bagunceiro, quando, ao chegarmos de um passeio, reparamos que havíamos sido seguidos por um cão grande, de pelo amarelado, mancando e de vez em quando soltando alguns lamentos doloridos, que coincidiam com o toque de sua pata machucada no chão. Paramos e o cachorrão deitou-se imediatamente, extenuado, as forças exeuridas pelo cansativo caminhar em apenas três pernas. Os arranhões das costas de pelagem amarela estavam com filetes de sangue coagulado e nos olhos tinha uma poça vermelha, resultado de pancada. Tinha sido atropelado. Deixei que ali ficasse para se recuperar, sem poder imaginar que ele não mais iria embora. Deu um pouco de trabalho arranjar comida que o satisfizesse, mas valeu a pena, pois logo revelou-se um bom guarda de segurança, já que ninguém se aproximava de nosso beco sem que desse o alarme com seu ladrar potente e incansável. Chamei-o Buzinhas.
Um belo dia, quando acordei, deparei-me com ele enroscado numa bela fêmea, negra e de longos e abundantes pelos eriçados, que não parava de se esfregar, emitindo grunhidos e gemidos de dengo e prazer, que deixavam Buzinas louco de excitação, passando a dedicar-se aos impulsos da lascívia, a libido no comando. Dei a ela o nome de Escova.
Por último, vieram os dois gêmeos, idênticos, marrons de pelo curto, focinho pontudo, ambos com o rabo cortado mostrando que já tinham tido dono. Apareceram na hora em que eu verificava o conteúdo da enorme caçamba que recebia os restos do restaurante chinês e ficaram a observar-nos com o olhar pedinte. Estavam magros e famintos e foi com satisfação que compartilhamos com eles a féria do dia, divertindo-nos mais em vê-los disputar entre si os diversos petiscos que eu lhes jogava do que propriamente a degustá-los. No terceiro dia, já completamente integrados ao meu grupo de acompanhantes, batizei-os de Bico e Beco.
Mas às vezes era cansativa tal companhia, os cães irrequietos e barulhentos, sempre estouvados e competitivos, ultimamente brigando entre si, na disputa pelos carinhos de Escova, deixavam-me deprimido, com saudades dos meus momentos de privacidade, a que eu era afeito por natureza, instantes de contemplação que me permitia, necessários para o meu refazimento mental após as duras e cansativas batalhas de sobrevivência no dia-a-dia.
Por isso é que cada vez mais amiúde, após deixá-los acomodados em nosso beco, empanturrados e quietos, sonolentos e felizes, escapo daquela cachorrada, sem aviso, solitário e independente, para me esgueirar silencioso por terrenos alheios, saltando muros e cercas, atravessando jardins e quintais, em devaneios noturnos, madrugada adentro, dando vazão a todo o romantismo de minha solidão e terminando a noite invariavelmente sobre algum telhado, olhando encantado para o céu, a miar comovido, perdidamente apaixonado pela lua.

do livro HISTÓRIAS DE JUÍZO INCERTO... RAZÃO DISCUTÍVEL... MORAL DUVIDOSA
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segunda-feira, 26 de julho de 2010.
A vida é uma dádiva e viver é desenrolar o presente
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sábado, 24 de julho de 2010.
FRASES RETUMBANTES, DE TRIPLO OU NULO SENTIDO E IMPROVÁVEL APLICAÇÃO.

Privadas Relâmpago... as únicas com descarga elétrica.

O ator se divide quando tem um papel picado.

A relação do porco assado termina em quartos separados.

Sonho com bolo de fubá toda vez que vou dormilho.

O enforcado tinha uma lágrima no olho e um nó na garganta.

O relógio, meio estressado, tinha um tic nervoso.
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Com tão pouco tempo de lançado, este singelo livro infantil já tem merecido inúmeros elogios, não só das crianças, como também dos adultos, até das vovós, que se emocionam ao contar a história.
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sexta-feira, 14 de maio de 2010.

O momento exato em que nada acontece!!!
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quarta-feira, 13 de janeiro de 2010.
Hugo Homem abre seu blog literário para visitas de leitores e escritores.
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sábado, 9 de janeiro de 2010.
Olá!
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